Ilustração: Rodolfo Nogueira / USP |
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Ilustração mostra uma visão artística de como possivelmente seriam o predador e a presa que viveram na região de General salgado, no período Cretáceo |
O município de General Salgado (110 km de Rio Preto) voltou a apresentar ao mundo, esta semana, uma nova espécime de crocodilo pré-histórico que viveu no noroeste paulista há 70 milhões de anos. O achado surpreendeu pesquisadores ao trazer na região estomacal partes de outro fóssil menor e preservado.
O animal maior tem aproximadamente 2,30 metros de comprimento e 220 quilos, e foi batizado de Aplestosuchus sordidus (em tradução livre, “abominável crocodilo guloso”). Ele integra o subgrupo dos Baurussuquídeos, que já tem outras quatro espécies de crocodilos da mesma família encontrados no mesmo sítio arqueológico.
Já a presa menor, que estava com partes do crânio e dos dentes bem preservados, deveria pertencer ao subgrupo dos Esfagessaurídeos, animais menores e de dieta onívora ou herbívora, segundo o biólogo Pedro Lorena Godoy, da USP.
Nesta quarta-feira, 21, por telefone, ele disse que a espécie achada no estômago ainda não foi identificada. “O interessante mesmo é que pela primeira vez temos um registro confiável de um fóssil e sérias evidências da predação entre espécies diferentes de crocodilos”, afirma.
Ainda segundo ele, alguns crocodilos contemporâneos apresentam características semelhantes de devorar membros da mesma espécie porque desenvolveram uma capacidade melhor de digestão até então não comprovada nos fósseis.
Os esqueletos foram achados em propriedade privada da zona rural de General Salgado e próximo a outros sítios arqueológicos já explorados na região. A nova espécime foi encontrada em março de 2011 e o material está guardado no museu de paleontologia da USP de Ribeirão Preto. Porém, apenas agora foi confirmada após publicação de artigo científico na revista Plos One, uma das mais respeitadas do gênero, dia 8 de maio passado.
Arquivo pessoal / Max Langer |
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Equipe do biólogo Pedro Lorena Godoy, da USP, durante escavações em General Salgado, no ano de 2011 |
O biólogo disse que a descoberta e a pesquisa integram sua tese de doutorado, que deve ser concluída e apresentada em agosto. Godoy foi orientado pelo professor Max Cardoso Langer, da USP Ribeirão Preto. Nesta quarta-feira, Langer conversou com a reportagem e enviou algumas imagens da época das escavações.
Ele confirmou que o achado paleontológico é um dos mais importantes realizados no país nos últimos anos e o primeiro em escala mundial. Os animais foram escavados de rochas da chamada Formação Adamantina, que se estende pelo Oeste Paulista até o Triângulo Mineiro, e são datadas do período Cretáceo.
Descoberta de outros bichos
Em julho do ano passado, o Diário da Região trouxe reportagem exclusiva sobre o quarto crocodilo pré-histórico achado em General Salgado e reconhecido oficialmente pela comunidade científica internacional. O animal é da mesma espécime Aplestosuchus sordidus e foi batizado de Gondwanasuchus scabrosus. Na época, pesquisadores das Universidades Federais do Rio de Janeiro e do Triângulo Mineiro encontraram um crânio do animal, extinto há mais de 80 milhões de anos, e contemporâneo dos dinossauros. Antes do Gondwanasuchus, foram encontradas duas outras espécies: o Baurussuchus salgadoenses e o Armadillosuchus Arrudai.
A descoberta foi do professor Thiago da Silva Marinho, da universidade mineira. Segundo ele, foram quatro anos de pesquisa até entender as características do Gondwanasuchus, um predador da família Baurusuchidae. Integrantes desse grupo competiam por presas com pequenos dinossauros carnívoros. A espécie foi descrita com base em um crânio parcialmente completo, bem preservado e com 12 centímetros. Pesava, em média, 40 quilos.
Na época, a expedição para coleta dos fósseis teve colaboração de especialistas da região. As primeiras pesquisas nos sítios arqueológicos foram desenvolvidas por docentes da Unesp de Rio Preto há 20 anos.
Preservação
Para os pesquisadores, o maior desafio a partir de agora é criar mecanismo de preservação dos sítios arqueológicos de General Salgado. “Embora a maior parte destas áreas fique em propriedade privadas e a lei proíbe o comércio, é preciso mais para preservar as áreas onde estes fósseis foram encontrados”, disse Godoy.
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