Redação.. – 24 de janeiro de 2014 às 20:11 (Atualizada em 24 de janeiro de 2014 às 20:36)
Marcos Hiller*
O brasileiro adora as redes sociais digitais. Nem metade do Brasil ainda tem acesso à Internet, mas praticamente todos que usam estão conectados a algum site de rede social: Facebook, Twitter, YouTube, Badoo, LinkedIn, e por aí vai. Estamos no top five dos países que mais usam Twitter, Facebook e Orkut no mundo. São Paulo é a segunda cidade que mais tuíta no mundo. No entanto, passamos pra lá do 100º lugar quando falamos de percentual de usuários de internet diante do número total da população. Uma razão meio lógica do porquê dessa nossa vergonhosa posição é a Internet ser muito cara e lenta no Brasil, nossa infra-estrutura não é das melhoes e, certamente, as mídias digitais demorarão muito ainda para serem usadas pelas empresas como mídias de massa. Televisão, jornais e revistas são os veículos de comunicação que dominam os investimentos em nosso mercado publicitário pelo simples fato de que é por meio dessas mídias off-line que as agências engordam seus faturamentos.
Por volta de 2005, entrei no Orkut, aquela nova rede social em que nos viciamos rapidamente e que nos magnetizava para reencontrarmos amigos da escola e do bairro, bisbilhotarmos vidas alheias e praticarmos nascisismos nos nossos álbuns e perfis. No Orkut criávamos comunidades e interagíamos muito nelas; e fuçávamos os scraps (praticamente uma caixa aberta e pública de emails). Mas, o Orkut serviu como uma ferramenta meio pedagógica. Ele nos ensinou a entender as lógicas dos sites, de redes sociais e a modular nosso comportamento nesses novos ambientes virtuais. Quem nunca passou por alguma saia justa no Orkut que atire a primeira pedra. Quem nunca pagou algum mico pelo Orkut? E as comunidades então? Elas eram excelentes. Tinha aquela do “Odeio acordar cedo”, que congregava milhões de usuários. Além de outras espetaculares como “Gostou? Pega senha!”, “Volta pro mar oferenda!”, “Eu reencontrei minha mãe pelo Orkut”, “Não fui eu, foi meu eu lírico”, e por aí vai.
Há alguns anos, estive em uma palestra que Orkut Büyükkokten, o criador da rede, ministrou na Escola Politécnica dentro da Universidade de São Paulo (USP). Logicamente, ele fazia questão de pisar em solo brasileiro sempre que possível, afinal o Brasil ainda era o maior usuário do Orkut no planeta. Logo no começo da palestra, deu a mão à palmatória afirmando que criou a rede para se conectar com amigos e somente anos depois pensou em como capitalizá-la, criando banners, links patrocinados, etc. A parte mais divertida da palestra foi quando apresentou as correlações entre as comunidades. Apontou que 80% das pessoas que estavam na comunidade “amo sushi” também estavam na comunidade “amo fotografia”, concluindo que pessoas que tiram fotos também apreciam comida japonesa. Mostrou que 90% das mulheres que estavam na comunidade “sofro de TPM” participam da “amo chocolate”, comprovando uma proximidade de temas já conhecida há anos. Por fim, mostrou que usuários no qual utilizam foto sem camisa no perfil têm 90% de probabilidade de serem do Brasil. A plateia caía na gargalhada e o Sr. Orkut não entendia aquela suposta fixação brasileira de posar sem camisa para fotos.
O fato é que o Orkut perde usuários de forma significativa todos os meses. E a principal hipótese é meio óbvia: todos estão, aos poucos, migrando para o Facebook. Essa genial rede social usada por mais de um bilhão de terráqueos. Mas, o Orkut ainda tem usuários. Como assim? Se grande parte de meus amigos só usa Facebook? Pois é, temos o hábito de usarmos como referência e nos balizarmos nas ações de nossos amigos mais próximos. Oras, o Brasil é muito grande, é um país continental, temos vários Brasis dentro do Brasil. Temos diversos São Paulos dentro de São Paulo.
Recentemente perguntei para uma turma de alunos de uma faculdade que leciono na capital paulista se alguém ainda usava Orkut. Cerca de meia dúzia levantaram a mão, e eu questionei por que não usavam o Facebook. E a resposta veio na lata: “ah não professor, acho o Facebook muito chique”. E não é que eles têm um bocado de razão? O Facebook é chique mesmo. O nome é gringo e o site é azul. Na teoria das cores, azul é cor da nobreza, é cor de sofisticação. Mas a rede de Mark Zuckerberg veio pra ficar, cresce cada vez mais no Brasil e o Orkut já foi bem ultrapassado pelo Facebook. As redes sociais digitais são fantásticas. Ali podemos ser nós mesmos, ou não. A rede social nos permite modelar um perfil como quisermos que os demais usuários nos enxerguem. Podemos expor nossas opiniões, sem as exigências do relacionamento pessoal. Para dar parabéns para amigos no Facebook é muito mais cômodo: eu escrevo uma mensagem padrão como “parabéns e felicidades”, copio e vou colando nos murais dos aniversariantes. Mais conveniente e mais barato do que ligar para a pessoa e desejar tudo de bom.
Seja saudosista. Ressuscite do orkuticídio que você cometeu e comece a postar tudo lá de novo. O Orkut mudou e está com um visual muito mais moderno. Até o aplicativo para iPhone disponível na app store está mais bacana e intuitivo. Eu mesmo pensei em voltar pro Orkut hoje mesmo. Só que não!
* Marcos Hiller é coordenador do MBA Marketing, Consumo e Mídia Online da Trevisan Escola de Negócios e autor do livro “Branding: a arte de construir marcas”, da Trevisan Editora.