Se a internet guarda riscos para os adultos, a rede pode ter um poder mais devastador sobre o desenvolvimento das crianças e adolescentes. Pedofilia, drogas e violência podem ser encontrados com facilidade na rede. Especialistas apontam que as duas ferramentas realmente capazes de proteger os mais jovens são a atenção e o interesse dos pais e educadores. Essa é a mensagem de alerta que a AVG quer deixar com o lançamento do e-book Proteja nossas crianças e jovens, lançado nesta quarta-feira (22) durante evento para a imprensa.
A companhia promoveu um debate com especialistas na área para comentar a nova realidade de informação e tecnologia que está acessível à jovens e crianças – e que não deve ser ignorada pelos mais velhos. A publicação brasileira é inspirada no livro One Parent to Another (De um pai para outro, em tradução livre) do evangelista da AVG Tony Anscombe.
Junto com o livro digital também foram apresentados dados sobre a presença online de crianças e adolescentes. Dentre eles, a informação de que 81% das crianças com até 2 anos de idade no Brasil já têm algum rastro de informação publicado na internet. A justificativa para esse rastro digital tão precoce é a postagem de conteúdos feitos pelos pais e outros familiares.
Além disso, a presença de crianças no Facebook também é um dado surpreendente para os pesquisadores – cerca de 54% das crianças entre 6 e 9 anos que possuem acesso à internet no País estão na rede social. De acordo com as regras da rede social, a idade mínima para a criação de um perfil é de 13 anos.
Presente ao evento, Ascombe afirma que essa disparidade entre a idade real das crianças que estão no serviço e a idade mínima pode causar grandes prejuízos.
— Os anunciantes no Facebook criam conteúdo pensando em um público de adolescentes de 13 anos, que a idade permitida pelas regras da rede social. Ao permitir que elas entrem antes no Facebook, estamos forçando nossas crianças a crescer muito cedo.
De acordo com o especialista em segurança e evangelista da AVG, os pais devem dar o exemplo aos filhos, mais do que proibirem os jovens de acessarem a internet ou confiscarem smartphones.
— Devemos saber o que compartilhar no Facebook. Somos compartilhadores compulsivos, temos mais de 100 amigos em uma rede social. Se colocarmos todas as pessoas em uma sala, será que conseguimos dar nome para todas elas? Então, estamos fazendo algo errado. Cresçam adultos e liderem pelo exemplo.
Pais devem aprender para ensinar
De acordo com a psicóloga do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática (NPPI) da PUC-SP Luciana Ruffo, um dos desafios dos familiares é lidar com as novidades tecnológica e corrigir hábitos errados ao mesmo tempo em que precisam orientar os mais jovens.
— Falar sobre internet é falar sobre tudo. Essa geração já nasce com a tecnologia, o que é diferente dos pais, que tiveram que se adaptar às novidades. Um dos grandes desafios é como falar sobre um assunto e dar conselhos para uma criança ou adolescente que já sabe mais do que você.
A psicóloga também explica que adaptar regras e convenções que são usadas no “mundo real” nem sempre garantem a segurança dos perigo na rede ou uma formação correta das crianças.
— A gente pode até falar “não fale com estranhos na rua e na internet”. Mas, todo adulto fala com estranhos na internet e na rua. É assim que conhecemos pessoas. Devemos ensinar como é esse falar, o que fazer ou que não fazer nesse contato.
Síndrome do Alt +Tab
Outro dos debatedores, o doutor em medicina e pesquisador de neurociência da faculdade de medicina da USP Pedro Paulo Oliveira Júnior alerta para um aumento quase epidêmico de transtornos de déficit de atenção e hiperatividade nos jovens. A situação ganhou até o apelido de “síndrome do Alt+Tab”, em alusão ao comportamento de ficar passando pelas janelas do computador.
— Não tem uma alternativa, qual criança hoje em dia desenvolve uma atividade esportiva ou um hobby? O uso da internet acontece em detrimento de outras atividades: leitura, lazer, estudo. Acho que os pais não precisam tirar o PlayStation, eles podem oferecer novas experiências.
Oliveria Júnior afirma que os meios digitais também podem atrasar a comunicação interpessoal das crianças, criando uma tendência de conversas por mensageiros no lugar do cara a cara.
— Como consequência, estamos vendo uma redução do vocabulário dos jovens. Nos anos 80, as pessoas terminavam o ensino médio tendo aprendido cerca de 2 mil palavras, hoje em dia esse número é de apenas 800 palavras.